Programa RAMA
5 de outubro de 2017
A raiz do desperdício na cadeia de abastecimento de frutas, legumes e verduras (FLVs) está em sua natureza perecível que faz com que itens não considerados frescos sejam desprezados e descartados. Mas as perdas estão emaranhadas em cada etapa: produção, pós-colheita, armazenagem, transporte processamento e distribuição.
Assim, além de garantir que frutas e hortaliças conservem as mesmas características desde o campo até os lares, a cadeia de abastecimento de FLVs tem como desafio minimizar e combater perdas e desperdício que são responsáveis por impactos econômicos, sociais e ambientais.
Mas como fazer isso? O primeiro passo é identificar e mapear as causas das perdas e desperdícios. Na sequência, buscar formas de estancá-las, a partir de boas práticas já consagradas. E, por fim, buscar novas soluções, se necessário.
“Inicialmente, os supermercados estavam mais preocupados em tratar da questão das perdas com FLVs. No entanto, com o passar dos anos e em virtude de acordos internacionais assinados pelo Brasil, perdas e desperdício tomaram uma dimensão transversal e global envolvendo outros agentes da cadeia ligados diretamente ou indiretamente a essas questões”, afirma o superintendente da Abras e coordenador do Programa de Rastreabilidade e Monitoramento de Alimentos (RAMA), Marcio Milan.
Para se ter ideia da importância dos hortifrútis para os supermercados, a participação deles, no faturamento do setor, em 2016, foi de 9,1%, quase R$ 31 bilhões. Segundo Milan, antes de mais nada, é necessário diferenciar os dois conceitos (perdas e desperdícios) e identificar em quais etapas da cadeia eles ocorrem.
“Perda é tudo aquilo que é produzido e perdido ao longo da cadeia e está mais concentrada em produção, pós colheita, armazenagem, transporte, processamento e distribuição. Já desperdício é tudo aquilo que tem valor nutricional, mas é perdido ou descartado [geralmente por desconhecimento] e envolve mais varejo, serviços [restaurantes, lanchonetes, etc.] e consumidor.”
Dessa forma, o superintendente da Abras alerta que combater perdas e desperdício vai além de prevenir prejuízos financeiros, previne também prejuízos sociais, ambientais e nutricionais. Em última análise, é uma forma de garantir que pessoas com dificuldade de acesso à alimentação não deixem de se alimentar por falhas operacionais na cadeia de abastecimento ou, mesmo, porque ignoram o que pode ou não servir de alimento.
Nesse ponto, está-se tratando de segurança do alimento e de segurança alimentar. E qual seria a diferença? O alimento seguro é aquele que está isento de contaminantes biológicos, físicos e químicos e, portanto, é adequado para o consumo. Já o termo segurança alimentar diz respeito à adoção de políticas públicas para ampliar, por que não universalizar, o acesso da população aos alimentos, em quantidade e qualidade adequadas.
Segundo dados da Embrapa Hortaliças, a cada dez quilos de alimentos que vão para o lixo, são necessários outros dez para suprir a demanda de mercado, o que significa que o desperdício dobra o uso de recursos necessários para a produção agrícola, entre os quais a água. Além disso, geram um impacto ambiental direto: a produção de gás metano, por exemplo, que, embora menos famoso, é muito mais potente que o dióxido de carbono em termos de contribuição para o efeito estufa.
Dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) revelam que o mundo descarta, aproximadamente, um terço do alimento produzido globalmente, ou seja, 1,3 bilhão de toneladas anuais. No caso de países latino-americanos, estima-se que 28% dos alimentos que chegam ao final da cadeia são desperdiçados.
Em países de renda mais elevada, o grande vilão do desperdício é o consumidor. Já naqueles com renda menos elevada, as perdas no início da cadeia de alimento são mais comuns devido ao baixo aporte tecnológico no manejo das lavouras, carência de estrutura para estocagem da produção e infraestrutura inadequada para escoamento/transporte das safras.
Produção Segundo dados da Embrapa, no Brasil, as perdas tendem a ser elevadas desde o manejo da lavoura, passando pelo pós-colheita, chegando até o varejo e o consumidor. Na primeira etapa, os problemas derivam de colheita inapropriada, ataque de pragas, doenças e desastres naturais.
Já as perdas pós-colheita podem ser classificadas como fisiológicas (amadurecimento), por injúria mecânica (armazenamento em caixas inadequadas) ou fitopatológicas (ataque por microrganismos). Elas decorrem, dentre outros fatores, de desconhecimento de técnicas de manuseio, armazenamento inadequado, falta de refrigeração, falhas na exposição nas gôndolas, excesso de manipulação dos produtos pelos consumidores e uso de embalagens inadequadas.
O manuseio após a colheita, quando feito de forma inadequada, é considerado um dos pontos mais sensíveis por gerar danos físicos e deteriorações fisiológicas e patológicas. Além disso, a exposição ao sol e a utilização de caixas sujas contribuem para uma deterioração mais rápida, assim como danos na superfície do produto que abrem uma via de contaminação por microrganismos.
Em geral, essas situações aceleram a degradação de compostos importantes para a qualidade sensorial e aceleram o metabolismo da hortaliça, que estraga mais depressa. Diante disso, muitos FLVs chegam às bancas machucados, murchos e até contaminados, ampliando as chances de desperdício.
Todavia, é importante destacar que FLVs esteticamente feios não necessariamente estão impróprios para o consumo.
Clique aqui e veja a matéria “Perfeito é não desperdiçar”, completa na edição de setembro da Revista SuperHiper.
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