Programa RAMA
1 de fevereiro de 2020
Por José Luiz Tejon*
Na universidade de Harvard, o criador do conceito de agribusiness na década de 1950, o professor doutor Ray Goldberg, agora aos 93 anos de idade, redefine as funções e a missão do novo agronegócio: uma agrocidadania em cinco elos, assim descritas:
1 Os produtores rurais se transformam em gestores de tecnologia, dos recursos de seus microbiomas, do clima e da água para alimentos, fibras, rações, bioenergia e farmacêutica. Saúde e agriceutica estão, agora, fortemente presentes na redefinição dos produtores rurais.
2 As companhias de sementes, fertilizantes, mecanização, insumos agrícolas, veterinários e demais serviços voltados aos produtores rurais se transformaram em organizações de ciências da vida (life science company).
3 Processadores e empresas de trading, os comerciantes de commodities, passam a executar uma função de solucionadores e fornecedores de matérias-primas e ingredientes cada vez mais específicos e segmentados, atendendo demandas de nichos.
4 As marcas (brands) de alimentos e bebidas, a agroindústria agregadora de valor, viram as inovadoras de sabores e nutrição, genuínas companhias de bem-estar humano.
5 A distribuição, o varejo e os serviços conectados diretamente aos consumidores finais serão agora chamados de “defensores dos consumidores“. Envolvem responsabilidade com segurança de alimentos (sua originação e sustentabilidade), saúde e nutrição dos clientes e cidadãos .
O Programa de Rastreabilidade e Monitoramento de Alimentos (Rama), da forma como está sendo hoje conduzido, é um exemplo perfeito da consciência dos supermercados brasileiros dentro da nova definição de agribusiness para a missão obrigatória do varejo de alimentos no planeta.
O Programa Rama, além de significar um zelo monitorado da qualidade de alimentos colocados nas gôndolas dos supermercados, onde o ponto de venda significa cada vez mais um ponto de confiança e de segurança de alimentos e eficiência nutricional, representando o que em Harvard está sendo chamado de consumer advocate, se transformou também num projeto educacional.
Com a rastreabilidade gerando métricas, os técnicos da PariPassu retornam aos produtores rurais e aos demais elos da cadeia produtiva da hortifruticultura, com impacto nos demais quatro elos acima mencionados, informações claras de melhoria da gestão no uso das tecnologias por parte dos agricultores, nas práticas dos intermediários e comerciantes, na agroindústria utilizadora dos vegetais, e indo além.
Agora, os supermercados vão se transformando também em salas de aula. Pontos de educação alimentar para os consumidores, além de desenvolver consciência antidesperdício.
A Abras, com o Programa Rama, está além de realizar somente um programa que rastreia e monitora. De verdade, os supermercados brasileiros já atuam em sintonia com a nova consciência do agribusiness evoluído, que hoje caracteriza
o estado da arte deste megasegmento econômico do planeta — uma agrocidadania —, da ponta do consumidor até as mãos e a responsabilidade do novo agricultor. Abras, supermercados e pontos de educação, além de vendas.
*O Prof. Dr. José Luiz Tejon é diretor acadêmico do Food & Agribusiness Management (FAM), na Universidade Audencia (Nantes – França). Também é membro do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e autor e coautor de 34 livros